O edifício e a cidade

Uma cidade, geralmente consiste no agrupamento de áreas de funções diversas, dentre as quais podem-se destacar aquelas residenciais, comerciais e industriais, assim como as zonas mistas (principais caracterizadoras das cidades contemporâneas). No geral, uma grande parte de uma cidade é ocupada primariamente por estabelecimentos residenciais e é sobre esta parte que gostaria de centrar meu raciocínio.

Uma das atribuições da arquitetura associa-se diretamente ao problema da organização do homem no espaço, principalmente no espaço urbano. Isto faz com que a cidade seja estruturada por uma série de elementos que se inter-relacionam de forma a propiciar as mínimas condições para que se possa usufruir de maneira qualitativa deste espaço.

Do conjunto arquitetônico que forma a cidade, não poderíamos deixar de destacar aquele grupo que constitui parte fundamental na concepção de qualquer metrópole: os edifícios residenciais. O projeto de uma residência é um tema universal e possui um programa de necessidades similar em todo o mundo. Porém, mais do que uma fria lista de espaços e áreas mínimas, um programa arquitetônico deve ser visto como uma relação de ações humanas, onde a qualidade do projeto não se limita somente à resolução de destes problemas. O sucesso de qualquer empreendimento residencial deve extrapolar os limites internos do próprio edifício para compor junto com os demais elementos da cidade, espaços de qualidade.

Para que isso se torne uma realidade, deve haver uma total integração entre arquiteto, empreendedor e poder público, pois estes devem estar sincronizados na busca pelo equilíbrio entre um satisfatório empreendimento imobiliário e uma excelente composição urbana. É fundamental entender que o edifício residencial não é objeto de concurso de beleza na cidade. A qualidade de um projeto inicia no momento em que este responde de maneira eficaz a um problema específico do lugar, compondo relações coerentes com o entorno construído. Se não for assim, a edificação ignora a hierarquia natural dos componentes da cidade e contribui para exacerbar o caos visual contemporâneo.

Algumas regras extremamente simples podem auxiliar na composição de uma arquitetura residencial correta e de qualidade:

* O edifício residencial não é formado apenas por frente e fundos, mas sim, tratado como um objeto completo, irradiando sua arquitetura por todos os lados, sem distinção ou privilégios;

* O projeto deve ser uma resposta lógica a um problema específico do local onde está inserido. Deve levar em conta as características do lugar de modo a convertê-las em regras coerentes que auxiliam na composição do novo edifício;

* A repetição de modelos pré-existentes deve se restringir a partes do edifício, que não propriamente caracterizam o todo. Em outras palavras, deve-se reproduzir seu principio formal, que é diferente da forma propriamente dita;

* Grandes afastamentos propiciam as edificações mais altas um aspecto menos agressivo sobre o usuário. A construção em altura deve ser vinculada com grandes espaços livres em torno da torre.

Este edifício é um interessante exemplo na busca por formas inusitadas e equilibradas com o entorno. As fachadas laterais relacionam-se diretamente com as demais construções do bairro de modo a promover uma maior liberdade formal junto à esquina, sem comprometer o conjunto urbano.

Em certos casos, a força do entorno é tão forte que algumas propostas optam pela simplicidade formal, estabelecendo relações entre os demais edifícios de maneira extremamente benéfica.

Autor: Rafael Spindler
O Arquiteto Rafael Spindler também é responsável pelo projeto racional, que incorpora alta tecnologia visando a sustentabilidade, o Residencial Piazza San Marco que estabelece um novo conceito de morar, onde, entre tantas outras coisas, a integração entre o passado e o presente determinam um ambiente inspirador.