Arquitetura para sentar, por Rafael Spindler

Quando projetamos determinada obra, por mais complexa que seja, todos os detalhes devem ser considerados para que o resultado absorva de maneira eficiente as mais variadas interferências realizadas pelo homem.

Ao imaginarmos um edifício residencial, por exemplo, além dos materiais e das técnicas construtivas a serem empregados em sua materialização, os arquitetos devem ter certeza que os espaços criados acomodem distintas disposições internas, pois a arquitetura de qualidade não se restringe apenas à edificação, mas na composição harmoniosa com os demais elementos que conformam seus espaços.

Neste sentido, um dos principais elementos que, em conjunto com as edificações estabelecem a beleza de uma obra, é o seu mobiliário.

A história do desenho do mobiliário tem um importante capítulo composto pelo trabalho realizado por alguns dos maiores arquitetos dos últimos tempos. Sem dúvida, o desenho destes objetos sempre manteve uma relação direta com a arquitetura.

Movimentos arquitetônicos históricos como o Arts and Crafts e a Bauhaus foram decisivos no desenvolvimento deste tipo de trabalho, tendo gerado alguma das mais brilhantes peças através das mãos de personagens como Marcel Breuer, Le Corbusier, Mies van der Rohe, Arne Jacobsen, Alvar Aalto e muitos outros.

Apresento aqui algumas das peças que tornaram-se ícones e que ainda são extremamente referentes na evolução do desenho tanto do mobiliário como da própria arquitetura.


O arquiteto húngaro Marcel Breuer desenhou a cadeira Wassily entre 1925-1926, enquanto estava na Bauhaus. O modelo conhecido como B3, foi revolucionário no uso dos materiais e em seu método de construção, inspirado na estrutura tubular de uma bicicleta. Mesmo que se refira a ela desta forma, Wassily foi apenas um apelido utilizado por um dos seus fabricantes ao saber como Kandinsky ficou maravilhado pela peça.

Em uma entrevista um ano depois de finalizada a exposição de Barcelona em 1929, o arquiteto germano-americano Mies van der Rohe comentou sobre o desenho da MR 90: “A cadeira é um objeto muito difícil. Todo aquele que tentou fazer alguma sabe disso. Existem infinitas possibilidades e muitos problemas – a cadeira tem que ser leve, forte, cômoda. É quase mais fácil construir um edifício do que uma cadeira.”

Um dos ícones do século XX, a cadeira Charles Eames foi a reinterpretação moderna da poltrona tradicional dos clubes ingleses, combinando tecnologia e trabalho artesanal feito à mão. A primeira peça foi produzida em 1956 e apresentada ao público no programa de televisão “Home” na NBC.

A utilização notável da madeira por parte do arquiteto finlandês Alvar Aalto resultou nesta cadeira desenhada no ano de 1931 para o Sanatório de Paimio. O desenho tinha como base incorporar certos efeitos emocionais através do uso da madeira e das formas sinuosas da cadeira, que produziam efeitos emocionais de familiaridade e confiança nos pacientes.

A famosa LC4, mais conhecida como Chaise Loungue, é fruto do trabalho de um dos mais importantes arquitetos do século XX: o franco-suíço Le Corbusier. O modelo de 1928 é parte de uma excelente série de móveis desenhados como resposta a inquietude que surge em Corbusier pelo equipamento das edificações.