Por muito tempo, o café esteve no banco dos réus, com a reputação de alimento prejudicial à saúde, principalmente para o sistema cardiovascular.
Agora, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo (InCor) avaliou indivíduos na faixa etária dos 50 anos e com histórico de problemas no coração e constatou que não há problemas na ingestão da bebida, que faz parte da cultura brasileira há mais de três séculos.Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo
Voluntários com e sem doenças cardiovasculares foram submetidos a exames antes e depois da ingestão de café. Após uma bateria de exames de sangue, teste de esforço, pressão e estudo da atividade vascular, ficou comprovado que o consumo do café filtrado pouco modificou o colesterol do sangue e que a pressão arterial não teve alteração.
Os voluntários passaram três semanas sem beber café e depois consumiram entre três a quatro xícaras grandes durante quatro semanas.
“Observou-se também que, depois de ingerir café, as pessoas conseguiam andar mais na esteira. O café tem o estigma de que faz mal e isso não é verdade”, afirma o diretor do Centro Café-Coração do InCor, Luís Antônio Machado César.
O grão descoberto na África é rico em sais minerais como sódio, potássio e magnésio, em vitaminas B1, B2 e B3 e também em substancias antioxidantes, que combatem o envelhecimento das células. Por volta dos anos 2000, estudos começaram a comprovar que as crenças de que a bebida alterava a pressão sanguínea não possuíam bases científicas.
“O café nunca tinha sido estudado em pessoas com doenças coronárias. As orientações para quem tinha doença eram para não tomar café e não havia nenhum motivo para isso”, diz o pesquisador do InCor.
Outros tipos de café como o descafeinado e o solúvel também foram investigados e a constatação é semelhante, de que não fazem mal ao coração. O próximo passo do InCor é analisar os efeitos do café expresso.
Com base nessa pesquisa, ainda não é possível dizer, entretanto, que o café previne doenças cardiovasculares.
“Ainda não dá para falar muita coisa nesse sentido, não temos estudos bem feitos, apenas um epidemiológico grande nos Estados Unidos, que sugere que o café reduz infarto, mas é baseado somente no que as pessoas disseram sobre a vida delas e é complexo tirar uma definição como essa”, afirma.
O médico também desmistifica a dependência causada pela bebida. “A dependência do café é boba, em uma semana ela desaparece. Não tem qualquer relação com a dependência de cocaína ou de álcool, por exemplo, porque é uma dependência pequena, passa logo.”
Ainda assim, a quantidade diária de café recomendada pelos especialistas equivale a três ou quatro xícaras grandes. Em alguns casos, a ingestão em excesso da bebida pode provocar irritação no estômago.
Vale lembrar que a pesquisa não chegou a avaliar o uso prolongado do café, e a redução do mesmo pode ser de grande importância para melhorar o prognóstico da doença entre pacientes cardíacos.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Fonte: Coracaoevida
O café é um elemento presente na nossa cultura e no cotidiano do brasileiro. Quem gosta, toma por prazer. Outros, por simples costume. Há quem veja, nas propriedades da bebida, aliados perfeitos na reposição energética diária. Mas como fica a conciliação de café e atividade física?
Quando utilizado antes do exercício, o café funciona como um bom estímulo, entretanto, ele também é capaz de afetar os seus músculos tanto quanto os exercícios que você pratica. Isso acontece porque o café aumenta a produção de energia pelo seu músculo enquanto inibe o mecanismo que aumenta a sua síntese proteica (inibe a enzima mTOR). A cafeína estimula o sistema nervoso central e provoca efeitos de relaxamento no corpo. Este bloqueio faz com que o organismo liberte adrenalina. É desta maneira que o café atua no corpo humano. Com esta libertação de adrenalina o ritmo cardíaco aumenta, as suas pupilas dilatam, os músculos ficam mais tensos e a glicose é libertada para o sangue o que nos dá energia extra
É interessante observar que o exercício inibe e ativa a enzima ao mesmo tempo. Quando ingerimos o café antes do treino essa inibição acaba tão logo terminamos de nos exercitar, porém com maior efeito, o que associado à alimentação pós-treino fará com que, biologicamente, o músculo esteja mais preparado para aceitar proteína e ganhar massa muscular.
No entanto, tal como em tudo, existem também pontos menos positivos no consumo desregulado de cafeína durante o dia. Pode produzir agitação, dores de cabeça ou irritabilidade. A cafeína também aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial. Quando o seu corpo cria o hábito de ingerir cafeína, é cada vez mais necessário valores superiores de cafeína para obter os efeitos de sempre.
Por isso o momento certo do uso do café e exercícios físicos é importante. O ideal é que o consumo seja feito duas horas antes ou após as refeições principais, evitando-o em intervalos maiores. Não se deve ultrapassar três xícaras ao dia
Antes das atividades físicas: o café funcionará como o próprio exercício, inibindo a mTOR, mas ao mesmo tempo, estimulando a produção de energia e queima de gordura!
Depois do exercício: não é recomendado o uso do café; nesse momento o correto é fazer uma alimentação adequada ao pós-treino.
Muito cuidado também com a forma pela qual você ingere o café. Ao fazer uso de uma boa máquina não estrague o produto utilizando copos de plástico. O correto é usar xícara de vidro ou cerâmica.
Fonte: Adriana Ribas