O jovem arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels (1974-) é o fundador do escritório BIG – Bjarke Ingels Group. Após dois anos de trabalho no Office for Metropolitan Architecture em Roterdã, Ingels fundou em 2001 o escritório PLOT junto a seu colega belga Julien de Smedt (1975-), cuja parceria que durou até 2006. A cisão da dupla gerou também o escritório JDS, com o qual Bjarke Ingels mantém a co-autoria de seus primeiros projetos,
Durante seu curto período de existência, o escritório BIG já recebeu inúmeros prêmios e participou de exposições de porte como a Bienal de Veneza (presente de suas duas últimas duas edições) e da Exposição Universal de Xangai de 2010, neste último representando seu país com o projeto do pavilhão e da curadoria de sua exposição.
Bjarke Ingels leciona em cursos de arquitetura e no ano de 2010 demonstrou seu interesse pelo Brasil ao promover uma disciplina em Harvard focada nas conseqüências sócio-econômicas referentes à copa do mundo de futebol em 2014 e dos jogos olímpicos no Rio de Janeiro em 2016.
Durante um coquetel posterior à palestra proferida por Bjarke Ingels em São Paulo[i], com direito a apertos de mão, autógrafos, fotos e trocas de cartão com representantes de grandes construtoras, foi pedido um desenho ao arquiteto. Para quem estava tentando adivinhar com qual dos seus inúmeros e icônicos edifícios ele iria pontuar sua passagem por São Paulo, o estranhamento de ver traços feitos a lápis vindo de um arquiteto conhecido por suas apresentações que fazem intenso uso da computação gráfica só não foi mais estranho que a surpresa pela imagem revelada por seu desenho: uma sereia suspensa por uma grua.
Entendeu ou quer que desenhe?
A atuação do escritório Bjarke Ingels Group
Potencializando os benefícios tecnológicos que configuram toda uma nova época de difusão virtual de projetos de arquitetura por renders e readers, em que poucos cliques podem tanto elevar idéias arquitetônicas a um elevado grau de realismo representativo quanto rapidamente ganhar o mundo pelas ondas da internet, Bjarke Ingels os incorpora e toma máximo proveito da idéia de que um projeto de arquitetura possa valer tanto quanto um edifício construído. Face aos olhos frenéticos e afobados de interessados por arquitetura que podem observar por segundos um projeto na internet sem nem menos saberem se gostam ou não gostam, se é real ou virtual, ou mesmo se um dia Irão vê-lo pessoalmente, o arquiteto parece ter percebido a necessidade de uma sedução maior que prenda seus olhos por um pouco mais alguns minutos.
Para isso o escritório traz uma identidade e uma marca de “grande” impacto: BIG, o Grupo de Bjarke Ingels, fundado em 2006, que paradoxalmente comunica a idéia de uma coletividade composta pelo caldo criativo de jovens arquitetos de todo mundo que por lá passam, ao mesmo tempo que esta é centralizada na figura de uma persona mitica, cujas idéias já garantiram, em tão curto tempo, seu respeito na escala nacional dinamarquesa. A prova da grandeza de sua pro-atividade é o próprio desenho realizado pelo arquiteto durante o coquetel, pelo qual se mostrou preocupado em ilustrar um impacto muito maior do que qualquer realização de ordem arquitetônica: conseguir consentimento do governo dinamarquês para transportar o valioso monumento nacional representado pela pequena estátua da Pequena Sereia, atravessando o mundo de Copenhagen para a Exposição Universal de Xangai de 2010, mais precisamente para dentro do pavilhão projetado pelo próprio escritório. (Por Luis Felipe Abbud )
Causando uma pequena revolução arquitetônica na Dinamarca por se tratar do primeiro de vários outros pequenos escritórios que surgiram repetindo uma mesma direção metodológica e representativa, os projetos liderados por Bjarke Ingels são dotados de uma carga plástica que fascina por apresentações sintéticas carregadas de diagramas policromáticos, colagens, imagens sedutoras e auto-explicativas com tamanha eloqüência que dispensariam mesmo a presença do apresentador em uma palestra, não fossem as repetidas piadas para entreter grandes audiências. Mais do que isso, seus projetos efetivamente construídos se mostram extremamente bem sucedidos ao se manterem fieis às suas respectivas estratégias de utilização programática desde sua formulação na etapa conceitual. O conjunto de suas obras traz ainda um exemplo muito estimulante de como uma metodologia de projeto pode incorporar um empreendimento de ordem formal e volumétrica diretamente ligados ao uso físico do espaço proposto, trazendo formas inusitadas derivadas de uma leitura estratégica do problema apresentado pelo cliente, ou mesmo levantado independentemente pelo escritório.
PLOT (BIG + JDS): Mountain Dwellings – Copenhague, 2008. Diagramas da apresentação do projeto. – www.big.dk
Trazendo coerência de identidade para uma produção de tamanha heterogeneidade resultante de uma gama variada de formas e soluções que muitas “evoluem” diante de novos contextos, suas apresentações seduzem clientes e reaproximam pessoas alheias à compreensão de um projeto arquitetônico pela objetividade da leitura, o que inevitável e positivamente chama a atenção para a necessidade de uma reformulação das formas canônicas de planta-corte-elevação-perspectiva que muitas vezes dificulta mesmo a discussão de projetos entre arquitetos.
Sua postura propagandística e multimidiática que incessantemente apresenta sempre o mesmo material produzido pelo escritório em contínuo estado de atualização por meio de exposições, filmes, livros, e-books e do próprio site www.big.dk permite com que seja possível de longe do escritório o rastreamento do esforço de emplacar idéias e reutilizá-las incessantemente até sua efetiva formalização edificada.
Seu livro-manifesto Yes is More – An Archicomic on Architectural Evolution apresenta as estratégias metodológicas de concepção de projetos do escritório mundo a fora, segundo um balanceamento dialético do problema arquitetônico pela caracterização do projeto baseada na incorporação direta de seus aspectos negativos dados (ou encontrados para além do programa apresentado pelo cliente), em um discurso que se contrapõe à superficialidade da freqüente imposição de uma tabula rasa cultural sobre o dado contexto a ser projetado por parte do arquiteto, que, na maioria dos casos, somente ocorre quando este deliberadamente fecha seus olhos (ou dos espectadores de suas apresentações) para aquela problemática pré-existente mais complexa de ser resolvida, quase sempre relacionado ao fenômeno resultante da ocupação humana e sua condição cultural.
(…) ao invés de nos lamentarmos sobre os sistemas ou obstáculos ou falhas, queremos explorar o que acontece quando você diz Sim para a realidade, quando você diz Sim para a cidade, ou mesmo quando você diz Sim aos vizinhos que reclamam, ou simplesmente diz sim à vida quando quer que você trombe com ela e descobrir tanto mais em retorno(…) (Fonte: Revista Veneza – abril 2011)