Casa em terreno inclinado com estrutura de madeira

Bons ventos! Assim o empresário Paulo Ferreira se despede no e-mail que escreveu contando sua longa história com essa ilha no litoral paulista. Há quatro meses ele vive em São Francisco, nos Estados Unidos, onde decidiu passar um período sabático de pelo menos um ano. “Sinto muitas saudades da minha casa, de Ilhabela e dos passeios de barco. A Califórnia é linda, mas não dá para comparar. A água aqui é muito fria e não tem nossa mata rodeando as praias, sem falar no vento gelado do Pacífico”, conta. Bem mais amena, a brisa do Atlântico é convidada de honra do seu refúgio brasileiro, erguido depois de uma verdadeira travessia – emocional e de envolvimento com o lugar –, iniciada há mais de 20 anos. “Sempre curti o litoral norte. Eu me decidi por Ilhabela quando visitei a casa do meu sócio e encontrei um terreno no mesmo condomínio”, relembra.

Antes de pensar no projeto, o empresário alugou um endereço na ilha e passou a frequentá-la todos os fins de semana. Como quem procura um norte, ficava horas olhando o terreno e imaginando como seria o seu canto. Esse amadurecimento enriqueceu o diálogo com a arquiteta Flavia Cancian, indicada por amigos. “O processo dele foi todo muito cuidadoso. A mim, ele fez apenas dois pedidos: que previsse quatro quartos e deixasse o mar à vista em todos os ambientes. Todo o resto discutimos juntos”, diz ela. Um ponto importante era o impacto ambiental da construção. Paulo desejava uma casa de madeira. Pré-fabricada, delgada e envidraçada, a estrutura de cumaru está ancorada numa sólida base de concreto, fórmula encontrada para posicionar a morada no terreno rochoso e inclinado.

Desafio estrutural
Normalmente, ilhas impõem dificuldades ao projeto de fundações, que precisa driblar o terreno rochoso. Aqui, o alicerce da casa se resume a um muro de contenção, dois pilares e uma laje, que trava o conjunto.

1 – Força na base: do térreo para baixo, a estrutura é de concreto. Dois tubulões principais descem a 1,55 m de profundidade. Ao longo do muro de contenção, tubulões menores chegam a 60 cm. Nas escavações, sempre que se batia numa pedra, reestudava-se o conjunto e realizavam-se as adaptações necessárias.

2 – A piscina ajuda: em balanço (sem apoios), ela passa a impressão de exigir mais da estrutura. Ao contrário: como num jogo de força e equilíbrio, essa situação, calculada no projeto, faz com que seu peso ajude a ancorar a casa, que está apoiada na outra extremidade.

3 – Leveza no topo: o paliteiro de cumaru (Ita Construtora) sustenta o piso superior e a cobertura. “A modulação das duas linhas de pilares sugeriu a organização dos espaços”, diz a arquiteta. Fornecidas já na medida, as peças deram origem a um esqueleto, montado em trinta dias.

As placas cimentícias nesta fachada cumprem também a função de envelopar a estrutura de cumaru. “É uma forma de protegê-la, já que esta face não tem beirais, apenas rufos”, explica a arquiteta Flávia Cancian.

A construção ocupa um trecho alto do terreno, levemente rebaixado em relação à rua. Esse posicionamento, estudado para obter as melhores vistas da paisagem e resguardar a casa, pediu uma intervenção no lote, que tem 30% de inclinação.

Todos os ambientes do térreo voltam-se para o deck da piscina.

Contínuo, o piso cimentício industrial reforça a unidade dos cômodos, enquanto recursos de iluminação ajudam a setorizá-los.

Apenas na cozinha o chão é diferente, de pastilhas de vidro (elas também colorem a parede atrás do fogão).

Esta sala, entre os três quartos menores e a suíte principal, foi pensada para acomodar um escritório. Hoje, funciona como uma extensão da varanda. É dali que se tem a melhor vista, da baía ao continente.

 

Revestida de pastilhas de vidro (Colormix), a piscina aproveita a face mais privilegiada da casa em termos de paisagem e insolação. Deck de cumaru da Pau-Pau Pisos de Madeira e esquadrias de alumínio.

Fonte: casa.abril