Projetos exemplares, por Rafael Spindler

Creio que uma das principais conseqüências da arquitetura esteja no impacto que a mesma provoca no ambiente, pois independente de sua qualidade, transforma de forma intensa o meio onde é construída.

Se o estabelecimento de um artefato arquitetônico isolado já é uma tarefa extremamente difícil, a integração do mesmo com alguma edificação pré-existente torna-se muito mais complicada, na medida em que aquilo que já existe deva estar em sincronia com o novo, para que as relações entre ambos edifícios seja fértil, complementar e qualitativa.

A restauração do Moinho Colognese, localizado no centro de Ilópolis é um dos exemplos mais elogiáveis nesse sentido.

Construído para abrigar o Museu do Pão e a Escola de Panificação, o edifício anexo ao Moinho é de autoria dos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci da Brasil Arquitetura e prima pela excelência em sua construção, pelo rigor da sua volumetria e, principalmente, pelo respeito à construção existente, na medida em que a maior virtude do novo edifício é fazer com que o antigo Moinho se destaque no conjunto.

Para isso, ao invés de projetarem o anexo a partir de uma mimese barata, intenção inicial dos clientes no falso intuito de “manter o estilo” da antiga edificação, os arquitetos decidiram construir um objeto extremamente contemporâneo que, sem deixar de integrar-se com o meio, se estabeleça a partir de uma identidade própria altamente qualificada.

Através de uma pureza espacial e uma volumétrica elogiável, utilizando materiais sóbrios e fartamente encontrados no local, além de uma técnica construtiva simples, o projeto do Museu do Pão é um dos melhores exemplos de uma arquitetura autenticamente moderna, onde a qualidade do projeto reside nos detalhes e na relação entre as partes do conjunto e não na espetacularização isolada do novo edifício.