Quando menos é mais

Esta semana um colega me perguntou o que eu achava a respeito do minimalismo, um conceito que normalmente é remetido a espaços ou lugares compostos por um mínimo de elementos construtivos.

Minha primeira reação foi comentar que, primeiro de tudo, devemos abandonar a idéia do minimalismo como estilo para considerá-lo como uma maneira de pensar em relação ao espaço, onde suas proporções, superfícies e o modo em que deixa passar a luz, resulte na expressão simples de um pensamento complexo.

Digo isto porque um dos grandes equívocos em relação aos espaços mínimos é que estes são geralmente associados a movimentos onde a renúncia constitui um aspecto essencial. Porém, o minimalismo nunca deve ser visto como uma arquitetura privativa, abnegada ou ausente, pois não é definida pelo que falta, mas sim pelo caráter acertado do que está presente. Em outras palavras, não se trata de estabelecer uma arquitetura de privação, mas sim de criar contextos idôneos para as coisas que importam no espaço, reduzindo os elementos de aparência para aquilo que é fundamental.

Geralmente, as pessoas tendem a centrar-se na idéia da renúncia como se, em certo modo, se tratasse somente de se desfazer dos móveis e pintar as paredes de branco. Em contrapartida para mim, a qualidade deste tipo de espaço não reside na negação, mas sim na total clareza visual, onde o olho, a mente e o corpo estão cômodos, sem nada que distraia o pensamento. É colocar ênfase na qualidade das experiências sensoriais, colocando sempre o indivíduo no centro.

Vivemos preocupados por idéias em relação ao futuro quando, em realidade, tentamos constantemente fazer com que o presente nos pareça sempre novo e atraente. Na arquitetura isto se traduz em contínuos programas de reformas, onde mudamos tudo ao mesmo tempo em que nada. Se o motivo do nosso interesse pelo futuro é o desejo de lograr um presente que nos satisfaça – no plano físico, visual e psicológico – é possível desenvolver formas perpetuamente interessantes, que existam a margem da influência da moda e do passar do tempo? Isto é o que, na minha opinião, a estética da simplicidade, com seu vasto potencial de riqueza e sensualidade, nos oferece.

Autor: Rafael Spindler
O Arquiteto Rafael Spindler também é responsável pelo projeto racional, que incorpora alta tecnologia visando a sustentabilidade, o Residencial Piazza San Marco que estabelece um novo conceito de morar, onde, entre tantas outras coisas, a integração entre o passado e o presente determinam um ambiente inspirador.